Recife

Em Recife, visitamos a CEASA – Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco, e também registramos alguns veículos nas vias da cidade.

As pesquisas visuais que deram origem a este projeto surgiram muito antes dele receber o incentivo do Funcultura, há pouco mais de 5 anos atrás quando comecei em conjunto com o fotógrafo Damião Santana a fazer fotos aleatórias das carroceiras de caminhão que circulavam pela cidade do Recife e municípios vizinhos. Envolvidos pela beleza e colorido dos grafismos manuais que decoravam as carrocerias, aos poucos surgiu o desejo de organizar os registros na forma de um inventário com a intenção de  não deixar se perder elementos da cultura visual típicos da nossa região.

Envolvidos pela beleza e colorido dos grafismos manuais que decoravam as carrocerias, aos poucos surgiu o desejo de organizar os registros na forma de um inventário com a intenção de  não deixar se perder elementos da cultura visual típicos da nossa região.

Investigando a cultura de outros lugares descobri que a tradição ornamental de veículos não é exclusividade do nosso país, mas um hábito presente também em outros países da América Latina, Índia, Paquistão e até no Japão. O Filete Porteño, por exemplo, é uma técnica peculiar utilizada na Argentina para decorar carroças e caminhões, hoje reconhecida como um dos ícones da cultura daquele país. Por que não resgatar essa tradição ornamental também no Brasil?

Para dar início a este projeto decidimos fazer um levantamento inicial das carrocerias de caminhão que circulam pelo estado de Pernambuco, para quem sabe mais adiante estabelecer correlações entre grafismos de outros estados do Brasil ou países. Mas como definir um universo de pesquisa composto por objetos que estão em constante deslocamento? Numa rápida visita a CEASA pode-se observar a ‘promiscuidade’ visual dos caminhões que por ali circulam provenientes das mais diversas partes do país. Assim definimos como recorte específico desta pesquisa todos os caminhões que fossem registrados no DETRAN [Departamento de Trânsito] de Pernambuco, considerando que suas carrocerias foram confeccionadas no estado ou estados vizinhos, já que os mesmos estariam trafegando em nosso território.

As primeiras visitas sistematizadas para ampliação do nosso banco de imagens foram realizadas na Central de Abastecimento local, a CEASA. Algumas primeiras impressões marcaram, como o fato da grande maioria dos caminhões de Pernambuco terem suas carrocerias decoradas a partir da técnica de estêncil – molde vazado utilizado como matriz para reprodução das estampas. Algumas poucas carrocerias possuíam motivos reproduzidos por pincel ou instrumentos semelhantes, e geralmente, estes eram elementos decorativos secundários ou inscrições tipográficas. Neste sentido decidimos refinar nossa busca com foco nas carrocerias de caminhão confeccionadas por estêncil, já que as mesmas são mais representativas em nossa região.

Na CEASA também pudemos observar as preferências cromáticas dos pintores de carrocerias. É frequente o uso de 3 cores para pintar cada carroceria, geralmente o preto, o branco mais uma cor primária ou secundária – vermelho, amarelo, azul, verde e ainda bege ou cinza.

Identificamos várias partes do caminhão que costumam ser adornadas, entre elas os módulos laterais da estrutura da carroceria, as amarra-cordas, as lameiras, o para-choque, a caixa de ferramentas, etc. Os motivos dos módulos geralmente apresentam desenhos simétricos tanto no sentido horizontal como vertical.

Geralmente cada carroceria é marcada – também por um estêncil – com o logotipo da empresa que a confeccionou ou reformou, e cada um destes estabelecimentos possui um padrão gráfico particular para decorar a carroceria. A cópia e adaptação de motivos, no entanto, é prática comum neste mercado.

 

In Recife, we visited CEASA (the local wholesale market) and also registered many vehicles driving around the city streets.

The visual research that led to this project came about long before it had received funding from Funcultura, a little over 5 years ago, when I started working alongside the photographer Damian Santana, taking random photos of trucks as they drove around the city of Recife and other neighboring towns. Struck by the beauty and color of the manual graphics, which decorated these trucks, the desire gradually emerged to organize these registers in the form of an inventory so that elements of this visual culture, so typical of our region, did not become lost.

Struck by the beauty and color of the manual graphics, which decorated these trucks, the desire gradually emerged to organize these registers in the form of an inventory so that elements of the visual culture, so typical of our region, did not become lost.

While investigating cultures from other places, I discovered that the tradition of decorating vehicles was not unique to our country, and could also be encountered throughout other Latin American countries, India, Pakistan and even in Japan. Filete Porteño, for example, is a particular technique used in Argentina to decorate carts and trucks, and today is recognised as one of the country’s cultural icons. So, why not catalogue this decorative tradition in Brazil as well?

To begin this project we decided to undertake an initial survey of trucks in the state of Pernambuco, so that later we could maybe establish correlations between graphics from other Brazilian states or countries. But how to define a research universe composed of objects that are constantly on the move? A quick visit to CEASA (a wholesale market) indicates how we are able to observe the visual ‘promiscuity’ of trucks arriving from every part of the country. Therefore, it was decided to maintain the focus of this research on trucks that are registered at the regional DfT [Department for Transport] in the state of Pernambuco, since it may be assumed that the bodywork of these trucks was produced either in this or in neighboring states, and that they would be encountered driving around this particular region.

The first systematized visits in order to expand our image database were undertaken at CEASA. Amongst our early impressions was the fact that most of the trucks in Pernambuco were decorated with the aid of stenciling techniques – cut-out stencils, which may be reused to produce the same designs. Some trucks also displayed motifs that were produced with a brush or some similar instrument, but generally, these were secondary decorative elements or typographical inscriptions. Therefore, it was decided to confine our focus to stenciled trucks, since they are more representative of this particular region.

At CEASA we were also able to observe the colour preferences used by the painters. Trucks are generally painted in 3 colours, black and white plus a primary or secondary colour – red, yellow, blue, green and even beige or gray.

We also identified the various parts of the truck that are usually decorated, which include the sides of the body structure, rope cleats, mud flaps, the bumper, the toolbox, etc.. The motifs along the sides of the truck usually contain symmetrical drawings, placed both horizontally and vertically.
Generally, every truck body is labeled – also by stenciling – with the logo of the company that produced or refurbished it, and each of these establishments has its own particular patterns for decorating trucks. Copying and adapting motifs, however, is common practice within this field of work.